segunda-feira, fevereiro 22, 2010

SEVILLA 2010 - A PRIMEIRA MARATONA... (PARTE 2)

A PREPARAÇÃO DO MATERIAL

Antes de preparar o material, esqueci-me de 2 pormenores importantes:

1 – O Alarve (Gonçalo Vicente para os inimigos), ganhou esta alcunha porque no referido jantar, e atendendo a que tinha uma prova no dia anterior que puxa pelo que se tiver no estômago (a mais), comeu:
- Os pães todos da cesta dele, mais 2 ou 3 da minha (…sim eu vi!)
- 3 pizzas familiares, mais metade da que eu dividi com a minha esposa, Mr.
GPS e Miss Belinhas.
- crepe com 43 bolas de gelado + “só 2 colherzinhas” das sobremesas dos
restantes convivas… que não iam correr no dia seguinte obviamente! Que
esses ficaram de boca aberta a olhar para o aspirador…

2 – O Forcado Anti-Queijo

Epá não sei porque carga de água, sempre que me aproximava a menos de 500m de uma fatia de queijo, lá aparecia o Forcado com a conversa do “QUEIJO!!! Mas tu queres morrer?!? Toda a gente sabe que comer 1 grama de queijo e fazer exercício nas 4 semanas seguintes é pior do que correr com dois sabres nas pernas durante 800 kms contra uma parede…”

Isto era dito por uma pessoa que na antes, durante e depois da maratona se enfrascava em "basos de vino…". Caro Vitó, tenho um tio que é “doutor das pessoas que vêm elefantes azuis a voar”... é só pedires e dou-te o número…


A PREPARAÇÃO DO MATERIAL (agora é que é)

A “preparação do material” não teve propriamente o significado que eu gostaria… uma vez que a esposa estava cansada da viagem e eu tinha kms de alcatrão para pisar no dia seguinte, vai daí resumiu-se mais a um juntar de todo o manancial de vestuário, produtos comestíveis (também no sentido menos interessante), produtos lubrificantes (idem…) etc…

Depois de ver o FCP empatar e agradecer a Deus nosso senhor por essa dádiva pré-caminha, foi então hora de preparar o material a levar no dia seguinte. Para os menos rodados (presente!) eu passo a explicar:

- Casaco de bombazina castanho para o estilo na linha de partida

- Chapéu de ciclista dos anos 30 “Barbot Tintas”

- Calções (nada de cuecas… Se é para badalar que seja na amplitude máxima)

- Camisola de Lycra de mangas à cava, 4 números abaixo para fazer sobressair os meus
peitorais de sonho

- Adesivos para os pipos - ninguém gosta de dar sangue involuntariamente no final de
uma maratona…

- Vaselina para untar toda e qualquer parte que roce… desde a planta dos pés às
pestanas

- Fita adesiva para cada dedinho do pé, para que as unhas não saltem pela 524ª vez

- Clips para o dorsal

- Ténis com o chip nos atacadores (e não lá dentro) … porque se não nem com os
adesivos deixaria de dar sangue no final

- 64 gels, 1 para cada 5kms mais 56 de reserva… não vá ter cãibras ao km 2…

Depois de tudo conferido em triplicado, fui-me deitar, não sem antes lançar um último olhar sensual à esposa (a esperança é a última a morrer… foi pena ela estar já a roncar).


DE MANHÃ

Perdão… de noite ainda… já que o despertador tocou a meio da noite… mas o mister insistiu que o pequeno-almoço fosse tomado às 6h…

A visão que se seguiu foi necessariamente semelhante à última refeição de um condenado à morte… sozinho… no escuro (para não acordar a mulher que ronca)… com o frio (sim porque ainda estava nu… Sempre na esperança…)… e a comer um iogurte desenxabido… mais 4 fatias de pão com 2 fatias de queijo meeeeeeeesmo mau… (e como se não bastasse, a imagem do Forcado a cada dentada no queijo). No final um Kiwi para melhor desanuviar na sanita!

De seguida, foi o adesivar, untar, vestir e calçar tooooodo o material minuciosamente preparado no dia anterior, lançar novo olhar sensual à cama e zarpar para baixo!

Chegado lá abaixo (tínhamos combinado encontrarmo-nos no 3º azulejo preto do hall de entrada) ainda só lá estava o mister com o seu equipamento áitéc, e foi altura de zarpar novamente para o 3º andar, para buscar o saco da roupa para depois da corrida que me tinha esquecido.

Combinamos ir a trote até ao estádio… (combinamos não, combinaram…! Eu por mim ia de carro até à pista!), e lá fizemos então esses cerca de 2km a rapar um barbeiro do catano mas em grande estilo (Bombazina foreva!).


AQUECIMENTO

Não houve! Estava demasiado frio!

Encontrámo-nos e desencontrámo-nos na pista de aquecimento dos sprinters dos jogos olímpicos… Primeiro apareceu o Barbooooosa, vestido como se fosse trabalhar (mas sem o cinto de ligas)… desaparecendo quase de seguida para cag…. Nunca mais voltou.

Depois foi o Mister, que já estava em stress pré-pré-pré-competitivo e foi lá para fora aquecer a 1 hora do início. Entretanto fui colocar o saco no “balcão dos sacos” que estava dividido por filas de números de dorsais, e voltei para a “pista dos sprinters”, onde me esperavam novamente os Vicentes (Alarve e Sô Vitor). Pegamos na gente e fomos lá para fora!

Chegados lá fora… milhares de convivas… todos eles às cores… todos eles a cheirar a voltarens e afins… e o que é que começou a bombar nas colunas do estádio?

Não, não foi nenhuma ligação em directo à retrete do Barboooosa, mas também fazia pum pum pum… Foi Buraka Sound System!!! Era mais um KUDURO in the house (para além do meu)…

Faltavam então 5 ou 6 minutos para o tiro de partida e foi hora de eu e o meu parceiro de viagem, Sô Vitor, e seu filho Alarve… iniciarmos o aquecimento.

Uma vez que estavam 2ºC a única forma de aquecer foi mesmo ir lá para o meio dos Voltaren-ó-dependentes, e ficar bem quietinho!

A emoção da partida para a primeira experiência na distância rainha é em tudo semelhante aos momentos que antecedem o pedido de um hambúrguer da casa “com tudo”. Tem-se uma enooooorme expectativa, e o pensamento “Será que darei conta do recado?” na cabeça.


KM ‘ZERO’ – THE BEGINING

Depois de uma falsa partida que fez com que o Sô Vitor tivesse de andar ali a ler o manual do computador de bordo, para saber como voltar a por a zeros, lá se ouviu o FUÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃ!!!

Foi hora de partir a toda a velocidade… a passo… já que só passados 1’30’’ é que cruzamos a meta e pudemos começar a aquecer os gémeos com aqueles passinhos de bailarina em pontas.

Saída do estádio pelo túnel e nova paragem lá dentro… Houve pessoal que logo ali parou para perceber como é que iriam fazer a rampa para o exterior… mas chegados lá fora … dezenas, centenas, milhares, milhões de partículas de ar… e algumas pessoas... incentivavam os atletas a não desistir logo ali!

A minha táctica era seguir o Sô Vitor o mais que conseguisse, ao ritmo de corrida que o Mister tinha previsto para ele (mais ou menos 5’/km), para que estivesse o menor tempo possível em sofrimento solitário.

O primeiro km tinha sido queimado em 6’30’’ devido ao pisar de bailarina, mas depois o ritmo foi entrando no previsto logo a partir do km 3.

Sabia que aquele ritmo, mesmo sem treinar, seria fácil nos primeiros kms…

Sabia, mas afinal estava enganado… nunca me senti confortável a correr nem mesmo no início… mas vá... não ia ainda em sofrimento!

A decisão de ir com o Sô Vitor, mesmo que viesse a pagar a factura no final, foi a mais correcta pois íamos ali em amena cavaqueira a falar da nossa experiência no ultramar (não, não é nenhuma corrida de 80km em cima do oceano) e a comparar as experiências sexuais com mais de 3 loiras.

Passamos ao km 5 com 27’02’’ , 2 minutos acima do que o mister queria, mas com o passo a sair certinho ali sempre na casa dos 5’/km!

De quando em vez na zona inicial, lá íamos vendo a minha senhora com a senhora do mister, e lá saía foto! Depois aparecia a senhora ou as 6 noras do Sô Vitor e lá saíam mais fotos … e nós na boa ali sempre na palheta… a maratona não custa nada!

Pelo menos até ao km 10, onde passamos com 52’21’’ (a 14’ do meu lendário record pessoal).

A coisa ia andando bem… e passávamos ao km 15 com 1h17’32’’ e ainda com um sorriso nos lábios!

Chegados à meia maratona, a coisa, para mim, não ia tão assim fácil como o mister informou dever acontecer… ”Um gajo tem de passar à meia completamente descansado” dizia ele. Não ia ainda de rastos mas começava já a acusar os kms.

Passámos com 1’48’30’’ (real).

Fizemos mais uns kms, eu, o Sô Vitor e mais um Tuga que me foi dando conversa, fazendo com que me esquecesse que daí a nada estava a ir para fora de pé (para lá dos 30km…) e sempre ainda na casa dos 5’/km.

Chegados aos 30km, com 2h34’07’’, eu já não ia a ouvir ninguém e já só ia dizendo às 2 lebres para se fazerem à vida porque estava prestes a entregar a alma ao criador…

Eles nunca desistiram de mim há que dize-lo, eventualmente prejudicando o ritmo com o qual se sentiriam melhor… Mas o que é certo é que até ali a coisa ainda ia perto do ritmo previsto.

A agonia do ritmo louco :P deu para gerir até ao km 34… altura a partir da qual, numa recta ligeiiiiiiramente a subir… deixei o Sô Vitor seguir e sem que eu desse conta o outro parceiro tuga desapareceu para trás também.

Passados alguns metros vejo ao longe uma espécie de Alarve verde… a correr praticamente parado… e a perguntar às pessoas onde era a casa de banho mais próxima!

Crepes com gelado 1 – Alarve 0…

Dei-lhe forças para a apanha do Taxi e segui o meu caminho a rir tanto quanto era possível naquele estado!


OS ÚLTIMOS 7 ANOS (KMS)

Passo aos 35km com cerca 3h00’, já em modo fantasma, tendo a certeza que não ia chegar ao fim a correr… mas sempre com o Sô Vitor à vista lá ao fuuuuuuuuundo!

Essa visão ténue, que nunca perdi, e os comentários iniciais em como seria fixe cortarmos a meta juntos, foram dando as “forças” necessárias para aguentar sempre mais alguns metros!

O sofrimento com que se vai nesta altura (para os que não treinam claro) é de tal ordem, que até as linhas brancas das passadeiras já eu contornava só para não ter de as “subir”.

Tudo pede para parar… os pés, as pernas, as ancas, as costas, os ombros, o pescoço, a bexiga, a boca (no more gels! Please!!!)… só não o fiz porque tinha a certeza de que se o fizesse teria de ir a andar até ao final… pois voltar a correr depois de parar era mentira!

E como ainda faltavam mais de 5km e o Carmo é friorento… resolvi correr mais um bocadinho.

Nisto aí por volta do cm 36000000 ou 37000000 (nesta fase já contamos centímetros em vez de kms), alcanço novamente o Sô Vitor… e fico animado por uns 20’’… já que ele mete uma abaixo, sobe para os 5’28’’ e eu não consigo baixar dos 5’30’’ que levava… pelo que volto a ficar sozinho com o Sô Vitor a afastar-se cada vez mais…

O facto de haver pessoal em ainda pior estado (Cristos com cruzes de betão invisível), parecendo que não, nesta fase, ajudava a pensar “Se estes gajos que vão aqui todos equipados à ironmans vão assim, então eu sou mesmo o herói que toda a gente insiste em que sou!

(…falta pouco… para falecer!)

6 comentários:

RuiRuim disse...

ahahahaa genial! o melhor relato de sempre! fico à espera de mais!

ps: vê lá se fazes uma ultra um dia destes, que aí já tinhas material para um livro!

PB disse...

Como dizem os franceses...fantastique!!! Um relato fantástico e com um humor muito original. Esse Vitó de que falas é o Mr. Carapelho? Se é, então sim tirem-lhe os queijos da frente!!!

Jesus disse...

ganda maluco!!!
Parabens

TudoNice disse...

Obrigados!
Aproveitando que tá de chuva e não dá para pintar ao ar livre, vou aproveitar para postar a 3ª e última parte da bobage!

Anónimo disse...

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E disse...

adorei seu relato!!!
domingo, 2 de maio, corri minha primeira maratona,a maratona de são paulo, e quando não estava delirando pelo calor ou cansaço, só lembrava de seu relato: o cheiro de voltarem na largada, o estômago implorando para não ingerir mais gel, e os kms restantes... para falecer!!! hehehe
amei!!!
mal posso esperar por mais um relato seu!