terça-feira, novembro 23, 2004

RELATO DA DESGRAÇA...

Quero desde já garantir a quem não esteve presente, que perderam o melhor passeio que organizei até ao momento desde o ano de 1978, altura em que, juntamente com o Cabritinha (como lhe chamávamos na altura), introduzi na Península Ibérica o que hoje chamamos de BTT (BEM – Bicicletas para as Estradas Nacionais de então).

Digamos que, tal como planeei até ao mais ínfimo pormenor, tivemos um pouco de tudo, de onde destaco por ordem alfabética:

· Agonia
· Berros
· Cãibras
· Dor
· Espasmos
· F#$”-SE
· Gritos
· Homossexuais
· Inveja
· Já chega!
· Larilas
· Medo
· Nossa Srª Fátima
· Orações
· P#$A CUS PARIU
· Quedas
· Rabilons
· Sofrimento
· Tortura
· Urticária
· Vexame
· Xiiiiiiii Patrão
· Zzztttt (eu a passar por eles)

Quantos aos presentes tivemos:

Eu - a um nível que dificilmente já alguém registou em vídeo
O Sô Presidente
O Sr. Prof. DÁrio
O Brandinho + o amigo da zona perigosa da charneca da Damaia
O Pedro “Perneta” Maia
O Iron Maral

Com 1 hora de atraso, porque lhes escapou na A1 a placa que dizia Saída para Alenquer a 2 km, e tb a que dizia Saída para Alenquer a 1000m, e tb a que dizia Saída para Alenquer a 500m, e tb a que dizia Saída para Alenquer a 200m e tb a pouco visível placa que dizia Saída para Alenquer a 100m, e que depois tiveram que ir fazer inversão de marcha ao Cartaxo via S. Pedro do Sul, tivemos:

Johnny Lopez
Eduardo “Teixeira Duarte”
João Paulo “360º No Hands” Soares

Por incrível que pareça parece que ainda não foi desta que conhecemos pessoalmente o Apartado 372, que não pode mais uma vez comparecer porque a filha parece que espirrou por volta das 11h15 da noite anterior, já não havendo depois tempo para a devida preparação mental e espiritual para enfrentar um desafio desta envergadura. Aposto que na próxima o vamos conhecer!

Portanto em vez de sairmos ás 9:15, saímos ás 10:05. Tendo eu revisto todo o percurso na noite anterior, vi logo que não iam ter tempo de fazer a volta toda. Como fui eu que os convidei, resolvi acompanha-los ao ritmo deles… e foi o que se viu.

Saímos pelas traseiras de Alenquer em direcção à Ota. A ideia original era seguir por alcatrão até ao Camarnal e aí seguir por terra até à Ota, mas como já estávamos muito atrasados resolvi seguir pela EN1. Empreguei o meu ritmo de aquecimento em alcatrão (35-40 km/h) e por incrível que pareça, ao fim de não mais que 500m, quando olho para trás já o conjunto de idosos estava a mais 700m, pelo que resolvi abrandar o ritmo. Mesmo assim quando passamos Cheganças (local onde almoçamos), começa tudo a mandar vir porque aquilo era suposto ser um passeio e não um conta-relógio e mai não sei o quê…
PARO! Na berma. Chega o Sô President a dizer que já não brincava mais comigo e que nem paramos para ajudar o João Paulo “360º No Hands” Soares, que tinha caído numa recta de alcatrão liso quando se distraiu a passar de mudança, e que ainda a acrescentar a isso o bacano da zona J da Damaia tinha feito um grind espectacular no pescoço do JP.

Depois de feitas todas as queixinhas, prosseguimos a ritmo atrofiante até à Ota, onde cortámos à esquerda no primeiro cruzamento, dando início á subida para o parque de merendas da localidade. Subida média com cerca de 1 km de comprimento com uma inclinação de 10% mais coisa menos coisa (segundo a agenda do Sr. Prof.).

Chego lá a cima, volto a colocar a roda da frente no chão, e espero pelo resto do pessoal, que pelo que me informaram vinham ainda a aquecer... (com aquela temperatura e aquele ritmo devem ter aquecido –13º C no mínimo).

Chegados ao parque de merendas, os aprendizes de gay quiseram logo tirar fotografias em grupo (a ideia deles seria outra, se eu não estivesse ali a moderar a coisa), e depois daquela palmadinha no rabo, lá foi tudo pela descidas dos SS’s abaixo - Diz a lenda que já fez parte de um percurso de Downhill – e que quando chegamos ao fim apenas eu desci o último drop sem desmontar. Foi pena ninguém ter filmado, pois foi o melhor back flip Kai Kai que fiz até hoje. Esperamos todos cá em baixo pelo João Soares que tinha uma bicicleta maior do que o resto do pessoal e não conseguia fazer as curvas sem desmontar...

Todos reunidos, prosseguimos a subida do Rio Bravo da Ota e depois embrenhamo-nos na selva através de uma subida rochosa e escorregadia que mais uma vez só eu fiz sem desmontar, também porque ia a sacar cavalo e era muito mais fácil passar as zonas sinuosas desta maneira. A experiência é isto meus amigos! Chegamos depois a uma curva de 136º que nos põe diante dos olhos uma réplica à escala da via norte do Evarest. Juro que se tivesse puxado mais na aula de rpm do dia anterior, não teria conseguido chegar lá acima sem desmontar... mais de 49% de pendente com terreno rochoso e solto qb, e um sol abrasador fizeram desta minha escala, a 2ª mais difícil de sempre. Os membros do grupo ao chegar lá acima disseram que nunca tinham experimentado o alpinismo, mas que também não queriam voltar a experimentar... não percebi porquê. Continuamos pois, por terreno ligeiramente ascendente, sempre com o Brandinho e o “Perneta” Maia a tentarem acompanhar o “Pai”, pondo muitas das vezes as suas próprias vidas em risco, e eis se não quando chegamos a um beco sem saída. Isto claro, foi o que passou pela maioria das cabeças dos aprendizes de triciclo:

- “Vejamos. Em frente? Arbustos! Para trás foi donde eu vim. Para a direita temos? Arbustos! Para a esquerda, temos este precipício. Onde raio é que se meteu o pró do Ricardo???”

- “TÁSSSS A BRICARRRR!!! Pessoal Pessoal o pró do Ricardo cai lá em baixo...!!!” - gritava com uma voz fininha o Brandinho

- “Não caiu nada!! Não vêm que ele tá montado! Pelo menos é o que parece aqui de cima” – comentava orgulhoso o Sô President

- “Incrível!!!! Onde é que voçês descobriram este gajo???” – questionava o “Perneta” Maia

- “Repara! Repara! Queres ver que ele vai escalar via 6b+ com a bicicleta??” – Brincou o Johnny Lopez

- “....” – longo silêncio colectivo

- “Se...Se...Se...Será que vamos ser beatificados, por assistirmos a isto?” – deixa escapar o boquiaberto Teixeira Duarte

Passados 36 minutos, lá começam a chegar, 1 a 1, os homenzinhos verdes que substituíram os HBT’s que vinham comigo!

“Esta é a última recta ascendente que temos até Montejunto” – tentando tranquilizar a multidão em fúria...
Nem passaram 12m quando se nos depara o primo da subida anterior... lá tive que acelerar para escapar à chuva de calhaus!

Cheguei a uma clareira, onde por segundos caíram algumas lágrimas provenientes dos meus extasiados olhos que diante de sim tinham uma visão parecida à da ZA1 da maratona de Grândola... a serra de Montejunto em todo o seu esplendor! Minutos depois juntam-se a mim os marcianos que depois de gastarem 19 minutos de insultos à minha pessoa e à minha família mais chegada, se apercebem da pintura no horizonte.... “AAAAAAAAAaahhhhhhhh que lindo!!!!” – cuspiu o Iron Maral, “Km’s quero km’s!!!” – acordou depois!

Depois de uma reunião ao bom estilo do meu condomínio, lá seguimos pelo caminho gay sugerido pela facção CUmichosa do grupo (todos menos eu), e não pelo “Alternative Extreme Escape” que eu tinha sugerido. Ainda assim houve alguém ainda mais gay que o caminho e nem isso conseguio fazer, ficando-se pelas urtigas.

Alcatrão até Abrigada cerca de 2-3 km, e paragem rápida nas bombas do intermarché para abastecer os cantiles. Decidimos que, devido à mesma facção de à bocado, deveríamos optar por um caminho mais curto ou almoçaríamos de mola no nariz.

Seguimos então pelo estradão de terra que vai dar à casa do guarda, mas ficando-nos pela aldeia a meio da serra que sobreviveu ao incêndio do ano passado. A partir daí foi a descer novamente até Abrigada, por onde dei um festival de sprints mágicos, saltos fotogénicos e a quebra de alguns records de velocidade da Região Oeste.

Passamos Abrigada qual pelotão sincronizado e chegamos à N1 que nos levaria de volta a Alenquer. Aí decidimos que os “mais rápidos” iriam á frente para não deixar escapar o banho quente. Essa dos mais rápidos tem que se lhe diga. Eu, o Perneta, o Sr. Prof., o Brandinho e o João Lopes partimos, com o Perneta a fazer uma breve passagem pela frente (47’’ segundos), depois foi a vez do Brandinho que fez a descida toda para a Ota (1’21’’) e depois na zona das subidas e vento forte de frente passei eu para os comandos do Combóio sem que ninguém me substituísse. Apenas quando já estavamos a acabar a última subida antes de Alenquer (12’46’’) é que o Sr. Prof. NaMama se dignou a passar para a frente para fazer a descida para a Vila Presépio (14’’). Passaram todos para a frente naquela de mostrar ás miúdas da terra que eram muita bons e blá blá blá... mal sabem eles que a minha fama na região é tal que elas pensam que eu sou o único exemplar no mundo. O único que fez um esforço parecido com o meu mais em câmara lenta, foi o Sô President que veio sozinho o caminho todo.

TOTAL = 45 km mais coisa menos coisa (com média de 20km/h, não foi?)

O Banho foi gostoso e o Almoço revelador, ou nem tanto, pois eu já desconfiava que até a comer o pessoal era gay... nem meio bife comeram!!!
Quero portanto voltar a repetir a experiência, mas desta vez com o pessoal todo e partirmos à hora certa e com regresso incerto. Certo apenas que faremos o percurso todo e sem N1. Pode ser?

R

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